A cidade a devorou aos poucos
como tantos loucos
perdidos nas noites
do Centro e da Cidade Baixa
Foi de amá-los todos
que se esvaiu aos poucos
no esgoto do tormento
maldição de nosso tempo
A cidade devorou-a aos poucos
dela nada restou...
A cidade a devorou aos poucos
como tantos loucos
perdidos nas noites
do Centro e da Cidade Baixa
Foi de amá-los todos
que se esvaiu aos poucos
no esgoto do tormento
maldição de nosso tempo
A cidade devorou-a aos poucos
dela nada restou...
A verdade que não é dita
pela fé do mundo:
Tudo muda
Nada permanece
Não existe divina justiça
Só a impermanência
da substancia
que no Todo se transubstancia
e se expande no Vazio Ignoto...
Acalenta teu coração
Fortalece tua alma
A MORTE É UM ATO SOLITÁRIO E INEXORÁVEL
QUAL SÓ AO MORIBUNDO INTERESSA
AOS VIVOS RESTA EGOÍSTA TRISTEZA
NAS EXÉQUIAS O FALSO CHORO
A PREOCUPAÇÃO SOBRE SI MESMO
NA VIDA ENTRE OS SERES SEXUADOS
A MORTALIDADE É A UNICA CERTEZA
CADA PASSO DO CAMINHO
CADA ROTA OU DESTINO
LEVA O SER AO SEU PRÓPRIO ENCONTRO
DA VIDA ESTE É O OBJETIVO
ATO SOLITÁRIO
QUE NENHUM AMOR OU AMIGO
NEM O PRÓXIMO CONTIGO
SERVE CONHECER
A NÃO SER TU MESMO
O RESTO É APENAS REFLEXO NO ESPELHO
DAS PRÓPRIAS CARENCIAS, DÚVIDAS E NECESSIDADES
GRILHÕES A QUE CADA UM SE ACORRENTA
"Iludido pela esperança
o homem dança nos braços
da morte":
disse o filósofo pessimista
Mas ainda prefiro dançar ao vento
à espera da hora finita
como louco dervixe
cultuo o deus da vida
e assim vou vivendo
cada momento
como connoisseur
de uma adega infinda
saboreando seus espíritos
raros tesouros
sempre se guardam
em caves profundas
um gari pede uma moeda
seu trabalho é árduo
e a fome não espera
como bizarro iogue
medito assim
em jejum profundo
sobre esta comédia
de ditirambos
quando jovem
me agradavam
as palavras fúteis
e os falsos hermetismos
nas coisas escritas
vivia a existência
em correto silogismo
já não guardo hoje
da lógica da vida
alguma esperança
ao perceber até onde
a compreensão
do povo alcança
pobres e ricos ensaiam
louca dança macabra
que os levam sempre
à cova profunda
da vida nada nunca se espera
na morte não há esperança
e quando nada esperamos
a felicidade por fim
nos ilumina
ao escutar ao longe
na calle ancha
um violino e uma flauta maviosa
que atravessa em falso sonido
numa linda tarde inverna...
Do Céu ao Inferno
jornada do solitário Mago
em sua alcova
plena de frascos e alfarrábios
num suspiro de enxofre
fogo fátuo de ilusão
surgiram bizarras musas em quatrilho:
Pobreza, Tormento, Culpa e Angustia
junto com elas surgiram legiões
de horrendas aparições noturnas
gargalhando em teatral platéia
funesta aparição de peça bufa
As três primeiras afastou com maestria
A ultima permaneceu
como substancial criatura
impregnada neste torto verso /conjura
O mal se esconde
em suas muitas manifestações
que habitam nas sombras do limbo
onde os pesadelos tomam forma
de odiosas visagens
escravas de funestos hábitos
e falsas lembranças
sem existência própria
evocados na vigília noturna
estes parasitas
miséria de espectros
retalhos do que foram
de quando em vida
terror sem nome
que se avizinha
sempre a espreita
do passado apego
de pobres mortais
deles saciam-se
com sofreguidão
se servem das vivas almas
num burlesco festim noturno