"Há recessos desconhecidos na nossa mente que estão além do limiar da consciência relativamente construída. Não é correto designar esses recessos por subconsciência ou superconsciência. A palavra além é simplesmente usada porque é o termo mais conveniente para indicar o lugar. Mas o certo é que não há na nossa consciência nem além, nem debaixo nem em cima. A mente é um todo indivisível e não pode ser desagregada em pedaços" (D. T. Suzuki - Introdução ao Zen)

"Entrar na floresta sem mover a grama; entrar na água sem provocar nenhuma ondulação" (Zenrin Kushu)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Liberdade Atônita





Semíramis bela cercada de finas plumas

olha absorta da bancada do jardim suspenso

o povaréu apressado em sua azáfama

na feira do mercado de Babilônia

sobe o odor impúdico do rebuliço das gentes

mercadores, mágicos e malabaristas

fazem seus reclames

encantam a plebe com seus trejeitos
   
as videntes mercadeiam esperança para os crédulos

outras mulheres negociam seus corpos

nas tabernas das vielas escuras e na porta do templo

punguistas ardilosos furtam velados pela multidão

no teatro de bonecos cercado de ouvintes atentos

gemidos de esmoleres com suas chagas expostas

imploram a piedade dos homens

e praguejam para os ávaros

ingênuos camponeses passantes incautos

com as bolsas cheias pela venda da safra

andam desavisados em meio aos sedentos lobos urbanos

Observa com inveja a musa divina

cativa deusa do harém do potentado

pomba prisioneira em gaiola de ouro e jóias

banhada em perfumes exóticos vindos de longe

rainha preferida entre tantas concubinas

inveja a liberdade das gentes simples

enquanto sorri melancólica

ao observar o movimento das ruas

que em vida nunca seus pés poderá tocar...