"Há recessos desconhecidos na nossa mente que estão além do limiar da consciência relativamente construída. Não é correto designar esses recessos por subconsciência ou superconsciência. A palavra além é simplesmente usada porque é o termo mais conveniente para indicar o lugar. Mas o certo é que não há na nossa consciência nem além, nem debaixo nem em cima. A mente é um todo indivisível e não pode ser desagregada em pedaços" (D. T. Suzuki - Introdução ao Zen)

"Entrar na floresta sem mover a grama; entrar na água sem provocar nenhuma ondulação" (Zenrin Kushu)

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Vivere (Schopenhauer)




"Iludido pela esperança 

o homem dança nos braços

da morte": 

disse o filósofo pessimista

Mas ainda prefiro dançar ao vento

à espera da hora finita

como louco dervixe

cultuo o deus da vida

e assim vou vivendo

cada momento

como connoisseur 

de uma adega infinda

saboreando seus espíritos

raros tesouros 

sempre se guardam 

em caves profundas

um gari pede uma moeda

seu trabalho é árduo

e a fome não espera

como bizarro iogue

medito assim 

em jejum profundo

sobre esta comédia 

de ditirambos

quando jovem

me agradavam

as palavras fúteis

e os falsos hermetismos

nas coisas escritas

vivia a existência 

em correto silogismo

já não guardo hoje

da lógica da vida 

alguma esperança

ao perceber até onde 

a compreensão 

do povo alcança

pobres e ricos ensaiam

louca dança macabra

que os levam sempre

à cova profunda

da vida nada nunca se espera

na morte não há esperança

e quando nada esperamos

a felicidade por fim

nos ilumina

ao escutar ao longe

na calle ancha

um violino e uma flauta maviosa

que atravessa em falso sonido

numa linda tarde inverna...