“Quando Asuras e Devas
jogam seu dado, as apostas são a Vida ou a Morte”.
“Eles lançam o dado do
maior interesse ao planeta”
“As águias, no alto da Árvore
Sagrada da Vida, saboreiam o mel”
“Dizem que é lá no alto
onde os figos são mais doces”
“A Porta do Sol espera
para quem é sensato, mas é uma barreira para os insensatos”
“Diz a Mente Superior: -
Para os verdadeiros crentes eu me transformo numa ponte que cinge o mar
profundo”
“O flutuar do afogado nos
lembra da catarse da alma que se foi”
“Quanto aos que se
entende que fizeram a travessia e foram libertados da morte; eles são Voz que
se transforma em fogo; Odor que se transforma em Rajada de Vento; Visão que se
transforma em Sol; Audição que se transforma em Ar; e Intelecto que se
transforma em Lua”. ( Vedantas )
"Deus é um senhor
jogador. Pode-se pensar no Universo como um gigantesco cassino, com dados sendo
jogados ou roletas sendo giradas todo o tempo. Você poderia pensar que possuir
um cassino é um negócio muito incerto, porque você se arrisca a perder dinheiro
toda a vez que os dados são lançados ou se gira a roleta. Mas em um número
enorme de apostas, as perdas e ganhos atingem um resultado médio que pode ser
previsto, embora o resultado de uma aposta individual não o possa".
(Stephen Hawking - O Universo Numa Casca de Noz)
Quando me dirigia para o
trabalho certa manhã escutando no rádio do carro meu programa preferido de
música clássica tive um insight a respeito de um dos aspectos mais flagrantes da imortalidade. Cada nota tocada
com esmero pela orquestra era como uma mensagem que chegava do passado até aquele presente repercutindo as impressões mentais do compositor ali impressas,
depositadas naquele padrão quântico de sons e silêncios que foram compostos
pela mente extasiada dele num processo criativo em tempos idos. Como uma
máquina do tempo estavam ali transportados novamente os seus sentimentos, suas angústias e
esperanças traduzidas naquela obra cheia de encantamento e formas sonoras,
variantes com nuances sutis e que representavam no seu conjunto a essência viva
do seu compositor, entre sons e silêncios, surpresas e desafios, ausências e
presenças de sonoridade. A audição da obra musical, em razão da sua organização
interna, portanto, congela o tempo que passa; como um pano fustigado pelo
vento, atinge-o e dobra-o. De modo que ao ouvirmos música, e enquanto a
escutamos, atingimos também uma espécie de imortalidade. Pode-se ter certeza
que em nosso planeta só os seres humanos planejam e criam sons artificiais e
usam instrumentos como ferramentas para realizar tal fim. Não é por nada que a
música esteve por milênios associada às práticas religiosas e aos deuses
imortais e com certeza também está diretamente ligada aos nosso ciclos vitais psicofisiológicos,
de forma complexa, às nossas ondas cerebrais e aos ritmos cardíacos e
respiratórios, capacidade da memória e intensidade de atenção. A humanidade
sempre atribuiu aos seus deuses primordiais, a criação das canções e dos
instrumentos musicais. A música sempre foi, portanto, atributo divino, como
dádiva, sopro da alma que toma forma de melodia perene no eterno ritual da
humanidade.
Ser e existir possuem
quase o mesmo sentido na sua forma de interpretação comum. Mas será a
existência individual atributo exclusivo do ser ? O individuo, na sua certeza
da condição finita do ser, em seu afã de permanência perene desenvolve seu
sistema de crenças como um alento, um sentimento de posse exclusiva do seu
existir. Apesar da própria vida determinar o caminho do ser, ele se ilude sobre
o domínio do seu livre arbítrio, do seu existir e sobre sua posse definitiva,
como patrimônio pessoal. Do ponto de vista do Karma cada individuo representa
uma pequena parcela, um pequeno elo de uma existência infinita, um encadeado
que no plano físico é mantido pela genética e no plano espiritual pela
senciência do ser, como pensamento.
Apesar da consideração
que temos com todos os entes da Criação, como parte integrante da biosfera e de
nossa existência no planeta de forma indissociável do meio ambiente, diferente
dos outros seres, aos sencientes, que compõem a humanidade, foi delegada a
chama do entendimento que leva ao abismo da certeza da morte e a ilusão do
isolamento do ser, da dissociação irreal de sua própria natureza, que pretende
adversa. Esse isolamento é razão fundamental e origem primordial da maioria das
patologias existenciais, ora psíquicas, ora somáticas em uma complexidade
exuberante. É o mal divino que acomete ao mortal, a parcela ciente da própria
finitude que se vê e percebe a inexorabilidade temporal. A certeza olímpica
desse proto-deus só é amenizada por alguma fé que lhe garanta o consolo de uma
existência duradoura além túmulo. É esse o ponto crucial onde os poderosos,
desde a mais remota antiguidade, buscaram atingir a imortalidade com a ereção
de tumbas e túmulos majestosos, e a realização de sacrifícios expiatórios, e
assim pretender deixarem sua impressão registrada na eternidade, para gaudio de
arqueólogos que por fina ironia tem garantido a perenidade de seus ocupantes,
no passado poderosos, que por puro egoísmo legaram à posteridade suas
impressões e registros históricos. Do Egito à Suméria, da China ao Japão,
dinastias pretendem através de suas obras, hoje ruínas, a permanência
impossível de Ozimandias.
No Ocidente é normal o
homem comum confundir o conceito de imortalidade associada à crença
judaico-cristã sobre a alma, e as doutrinas da reencarnação são normalmente mal
compreendidas pelos estudiosos Ocidentais, e misturados os conceitos da metafísica
indiana com as doutrinas neoplatônicas como se fossem um só.
Na verdadeira doutrina
indiana da reencarnação nada passa de um corpo para outro e as palavras em
sânscrito empregadas para “renascimento” são usadas no mínimo em três sentidos
distintos:
1)Em relação à
transmissão de características físicas de pai para filho, no sentido biológico
de palingenesia, como “a reprodução dos caracteres ancestrais sem alteração”
2)Em relação a uma
transição de um plano de consciência para outro, processo efetuado no próprio
individuo e em geral numa vida e só nessa, como por exemplo o tipo de
renascimento que está implícito no ditado que diz: “A menos que nasças de novo”
e do qual a palavra final é deificação.
3)Em relação ao
deslocamento ou peregrinação do Espírito de um corpo-alma a outro, que ocorre
sempre quando o veículo composto morre e outro é gerado, do mesmo modo que a
água poderia ser despejada de um recipiente para o mar e ser retirada de lá com
outro recipiente; continuaria a ser a mesma substância, mas não seria “aquela”
água, a menos que se atribua uma identidade e uma forma temporárias ao conteúdo
do recipiente.
Na doutrina universal,
com raízes profundas nas mais diversas sabedorias do Oriente e Ocidente de
"uma essência e duas naturezas", as duas mentes , uma que subsiste no
ato do pensamento e outra na execução da ação, são as "naturezas" do
ente relativo. Como três, elas correspondem à vida contemplativa, à ativa, e à
vida de prazer. Então podemos imaginar que: "antes do Princípio estava a
Mente, e a Mente estava com Deus e a Mente era Deus" segundo infere a
tradição oculta. Como diz o Maitri Upanishad: "dizem que a mente é dupla,
pura e impura: de jugo, quando (a mente) se agarra ao objetivo do desejo e de
libertação quando está desligada do objetivo."
A estrutura tripartite
consagrada por Platão, que compõem o sistema holístico do individuo, também
revelada pela tradição da Cabala e integrante como conhecimento da tradição
oculta estabelece um núcleo anímico parassimpático, uma esfera correspondente à
alma individual e um Espírito imanente que permeia todo o Universo e induz a
forma, como uma impressão de sua imagem, do ente relativo no plano terrestre.
Enquanto a alma individual conduz a persona e glorifica a existência na Terra,
o Espírito é o fio condutor da imortalidade, pois ele é a verdadeira substância
do Ser no plano astral. A divisão de fato não existe já que a estrutura é
indivisa, mas quando perece o corpo mortal pouco resta do núcleo parassimpático
e da alma individual a não ser uma impressão no plano sutil que logo desvanece.
É o Espírito que permanece como fonte inesgotável da Sabedoria Universal para
continuar na sua jornada. É Dele a sensação de imortalidade que intimamente
todos sentimos.
Para Plotino, os deuses
"nunca aprendem" e "não se lembram"; e pelo mesmo motivo,
ou seja, por não existir esquecimento, não há necessidade para lembrar ou
aprender. É apenas para a mente individual do ente relativo ou mente variável,
essa nossa mente que esqueceu tantas coisas, que é desejável ser ensinado e
recordar-se o que se aprendeu. O que se pode ensinar a essa mente é o que ela
esqueceu, segundo definem as doutrinas esotéricas tradicionais; por isso, diz
Meister Eckhart, "só quando a alma souber tudo que há para saber podemos
passar para o Bem Desconhecido."
Na cosmologia contemporânea pensamentos da mesma ordem começam a surgir como hipótese sobre a geração da totalidade, os homens sábios da ciência se voltam para antigos conceitos e paradigmas para tentar desvendar os mistérios do Universo:
"Na teoria
newtoniana, na qual o tempo era um fenômeno infinito e existia por si, seria
possível perguntar: "O que Deus fazia antes de criar o Universo ?"
Como disse santo Agostinho, não se deve ser leviano a esse respeito como foi
aquele homem que disse: "Ele preparava o inferno para aqueles que
prescrutam seus mistérios." Essa é uma questão séria que tem sido
discutida em todas as épocas. De acordo com santo Agostinho, antes de Deus
criar o céu e a terra, Ele não criou absolutamente nada. De fato isso é muito
próximo das ideias dos cosmologistas contemporâneos."
"Na relatividade
geral, por outro lado, tempo e espaço não existem independentemente do Universo
ou um do outro. São definidos por mensurações dentro do Universo, como o número
de vibrações do cristal de quartzo em um relógio ou o comprimento de uma régua.
É perfeitamente concebível que o tempo, definido desse modo, dentro do
Universo, tenha um valor minimo e um valor máximo - em outra palavras, um começo
ou um fim. Não faria sentido perguntar o que acontece antes do começo ou depois
do fim porque tais eventos não seriam definidos" ( Stephen Hawking - O
Universo numa Casca de Noz )
O Ritmo, Constante
Universal da Criação, eterno pulsar da Vida, é condição indispensável como
frequência da energia que ocupa continuamente o não existir primordial, o
Sunnyata. Ali habita toda a magnificência do Manvantara, o dia de Brahma, o
amplo salão onde pulsa a amplitude da vida numa frequência vertiginosa, como um
cinematógrafo tridimensional, que permeia todo o existir do Universo, como
atributo da existência da matéria. O troar de miríades de sóis na infindável
disputa entre as forças centrifugas e centrípetas, eterna tensão da energia
nuclear e da gravidade, dá o ritmo frenético de forças titânicas, de onde geram
as coisas da matéria planetária, origem primordial dos elementos atômicos
forjados pelo ferreiro cósmico em seu constante divino martelar para criar o
mundo das aparências.
No plano humano, a
oposição das forças, em constante mutação cria a devida distinção para gerar o
primeiro movimento, ritmo necessário no campo espaço temporal que denominamos
vida, dimensão onde habitam as dez mil coisas com seus atributos e potenciais.
Esse ritmo vital é a tensão entre o arco e a lira, entre Eros e Tânatos.
Conforme Platão: “A Harmonia do mundo ordenado é uma harmonia de tensões
opostas, como a lira ou o arco”. Para qualquer tipo de movimento é preciso
existir uma interação entre forças opostas. A ausência de contrários é a
ausência de progresso, segundo Blake. E como condição basilar do esoterismo, a
ausência do “Coincidentia Opositorum” seria a ausência do principio vital que
fecunda o Universo.
Nessa membrana física
pulsante, fímbria que subsiste e contém a matéria densa e a matéria sutil, o
ser, o fio de ligação, aos poucos se rompe, se desvanece, em energia pura, e a
existência assume sua verdadeira vocação, de dimensão Una, semente primordial,
partícula de luz, hólon, parcela complementar do ato da Criação, parte do
clarão do Big Bang ainda presente além do véu espaço temporal da nossa pretensa
realidade, a Ilusão de Maya, desde o Inicio do Tempo até o Juízo Final previsto
pelos antigos profetas, não no sentido bíblico, mas no seu aspecto fenomênico,
como reapropriamento da energia que não se exaure contida no primeiro ato da
Criação, mas que se converte em outra forma de energia e reverte seu destino
novamente para o início.
A ausência ocasional do
ritmo cósmico estabelece o retorno à Fonte, ao centro da roda, onde o movimento
cessa em sua dimensão imaterial e atemporal. É quando ocorre a Queda em direção
á massa escura que permeia o Todo. O Pralaya da energia, a noite de Brahma que
desce sobre o quantum de energia em seu retorno fenomenal. Onde acaba o tempo, acaba
o ritmo da Criação.
A quantidade ou espécie
de tempo em que a continuidade do caráter e da consciência do “ser” pode ser
mantida num espaço dimensionado e numa base material é irrelevante. Mesmo assim
o destino real da consciência de um indivíduo depende de si mesma, quer ela
deva ser “salva” ou “libertada”, quer seja destinada a entrar de novo no Tempo
(Pitryana) ou ser “perdida” (Nirrtha). “Não se pode pisar duas vezes na mesma
água, pois novas águas estão sempre fluindo para nós” (Heráclito).
|
Aquiles - Louvre |
A Odisséia da Alma -
Vamos encontrar desde
tempos imemoriais referências a questão da imortalidade da alma. Na Antiguidade
os homens acreditavam que a alma do morto ficaria aprisionada pela eternidade
na escuridão do Hades. Na “Odisséia”, Ulisses em seu tortuoso retorno da guerra
de Troia, na tentativa de voltar ao lar, encontra Circe, com quem mantem um
relacionamento por um bom tempo, na ilha mágica da feiticeira. Alguns contam
que teve vários filhos com ela. Os companheiros de viagem do herói aborrecidos
por uma vida fausta, mas sem emoções instam-no ao regresso e Circe não cria
obstáculos a sua partida e ainda o auxilia para que encontre o rumo de casa.
Entre todas as instruções ela diz para o rei guerreiro: “Presta atenção, a
próxima escala da tua navegação deve te levar ao país dos Cimérios, ali onde o
dia nunca aparece, o país da noite, do nevoeiro eterno, onde se abre a boca do
mundo infernal”. Dessa vez Ulisses terá que enfrentar muito mais que as normais
aventuras dos mortais, mas terá diante de si a fronteira do mundo dos mortos.
Circe explica detalhadamente os rituais que Ulisses terá que proceder: “...irás
a pé até uma fossa, terás farinha contigo, leva um carneiro, degola-o, espalha
o seu sangue, e verá surgir do chão a multidão dos eídola, dos duplos, dos
fantasmas, das almas dos mortos. Deverás reconhecer e agarrar a alma de
Tirésias, o adivinho, fazê-lo beber o sangue do teu carneiro para que ele
recupere certa vitalidade e te diga o que deves fazer”. Ulisses vai até aquele
país e no local cumpre os ritos necessários. Diante da fossa degola o carneiro
e deixa seu sangue pronto para ser bebido. Então percebe vindo em sua direção
os oútis, os que são ninguém. São os sem nome, os nónymnoi, os que não têm mais
rosto, que não são mais visíveis, que não são mais nada. Formam uma massa
indistinta de seres que outrora foram indivíduos, mas dos quais nada mais se
sabe. Dessa massa aterrorizante sobe um rumor indistinto e profundo. Eles não
falam, só produzem um barulho caótico. Ulisses aterrorizado teme ser absorvido
por essa massa disforme, teme ser perdida em meio ao barulho sua palavra
ardilosa, sua glória e sua fama ser engolfada pela massa e sua celebridade ser
abandonada nesse esquecimento de morte. Ele corre o risco de perder-se nessa
noite, mas de repente vislumbra Tirésias.
Tirésias bebe do sangue e
logo passa a contar para o herói seus passos futuros, sua volta para a amada
esposa, e também lhe dá notícias de todos, os vivos e os mortos que não
retornaram de Troia. Ulisses então enxerga as sombras de alguns companheiros da
guerra, vê sua mãe, e reconhece Aquiles entre os mortos e o interroga. Aquiles
após beber o sangue que lhe restitui a vitalidade, nesse momento em que toda a
hélade canta seus feitos, num eterno sentimento de orgulho de sua glória, no
auge do seu kléos, palavra que significa "ouvir o que os outros dizem
sobre você". Um herói grego determina assim o seu kléos por realizar
grandes obras ou participar de batalhas, muitas vezes através de sua própria
morte. Ele que pretendia que sua superioridade fosse reconhecida até mesmo no
inferno responde à Ulisses: “ Eu preferia ser o último dos camponeses
enlameados, lastimáveis em meio ao estrume, o mais pobre vivendo à luz do sol,
a ser Aquiles neste mundo de trevas que é o Hades”. Com essas lamúrias Aquiles
contraria o que tinha antes proclamado na “Ilíada”, naquela obra ele dizia
preferir uma vida curta de glórias a uma vida longa e sem aventuras para sua
mãe Tétis que adivinhava grave destino. Para ele antes não havia hesitação em
escolher a vida gloriosa, a morte heroica em plena juventude, pois a glória de
uma vida breve que termina na “bela morte” do guerreiro valia bem mais que o
resto. Agora, junto a Ulisses, sua sombra incorpórea afirma chorosa exatamente
o contrário. Aprisionado no mundo dos mortos diz ter preferido uma vida
inglória de um sujo camponês em algum recanto obscuro da Grécia para seu antigo
companheiro de batalha.
Mas na saga de Ulisses o
assunto da mortalidade é tema recorrente nesse verdadeiro processo de evolução
do herói em direção ao seu destino derradeiro. Ainda tentando retornar, após a
morte de toda sua tripulação, sozinho perante as intempéries é salvo por
Calipso em sua ilha mágica, que não existe nem no plano dos homens, nem dos
deuses, no imenso Oceano além do espaço e do tempo. Lá Calipso o recolhe
exaurido pelo naufrágio, quase morto afogado. Nesse mundo, à parte de tudo, vai
morar toda uma eternidade, cinco, dez, quinze anos, tanto faz, pois a contagem
do tempo humano não existe mais. Cada dia se assemelha ao outro, em seu interlúdio
amoroso com Calipso, uma relação apaixonada, sem mais contato com quem quer que
seja, uma solidão total a dois. Num tempo além do tempo todo dia é igual ao
anterior. Na ilha de Calipso, Ulisses está fora do mundo. Calipso é sempre
solicita e amorosa com ele. Mas é como determina seu nome Kalypsó, que se
origina do verbo grego kalyptéin, “esconder”, aquela que se esconde num espaço
além de tudo e esconde Ulisses dos olhares do mundo.
Por intervenção direta da
divina Atena junto ao seu pai Zeus, sob a justificativa que todos os heróis
vivos haviam retornado aos seus lares desde a guerra de Troia, pede clemência
para Ulisses, que é o único herói a permanecer ainda cativo na ilha de Calipso.
Diante a insistência da filha, Zeus compadecido joga os dados e lança a sorte:
Ulisses deve voltar. Decisão divina que deve ser apressada, pois é necessário
que Calipso o permita. Que Hermes então se encarregue do assunto. O deus
emissário fica descontente, a ilha mágica fica muito longe de tudo, que está em
lugar algum e ele nunca havia posto seus pés lá. É necessário cruzar uma imensa
extensão de mar Oceano, além dos limites da realidade.
Veloz como o pensamento
ele com suas sandálias aladas desembarca a contragosto na ilha, que
imediatamente o maravilha, pois se parece um pequeno paraíso. Há jardins,
fontes, bosques, nascentes, flores, grutas habitáveis e mobiliadas onde Calipso
tece e fia entre um momento e outro de amor com Ulisses em suas acomodações
confortáveis e cobertas de sedas. Hermes fica maravilhado, mas não pode deixar
de comunicar à Calipso a mensagem do deus. Esta o reconhece imediatamente e
pergunta a razão da sua visita. Ele responde: “Se dependesse de mim eu não
teria vindo, mas tenho uma ordem de Zeus. As coisas estão decididas, deves
deixar Ulisses partir”. Sem escolha, mas sem deixar de admoestar o ciúme dos
deuses por ela estar vivendo bem tanto tempo com um herói mortal ela responde:
“Está bem, aceito, vou mandá-lo de volta”.
Enquanto isso Ulisses
estava sozinho em um alto promontório de onde avistava o mar terrivelmente
encapelado que se arrojava contras as pedras da ilha. Com toda a tristeza do
mundo chorava amargamente seu destino, chorava de remorso pela esposa Penélope,
pela sua Ítaca, a terra natal perdida, seus membros tremiam convulsionados. O
homem grego afastado por força de sua polis é como um desgarrado. Calipso sabia
que Ulisses ainda pensava no regresso, que ele era um homem do retorno. Mas
guardava uma falsa esperança de mantê-lo ao seu lado, de fazê-lo esquecer do
lar, da esposa e também que tinha sido no passado. Seu percurso tirou-o do
caminho dos homens, para levá-lo ao caminho dos mortos, entre os Cimérios, até
a extrema fronteira do mundo da luz. Agora ele está fora de combate, nesse
limbo isolado de tudo na extensão do mar Oceano. No mundo dos mortos, entre os
espectros ouvira Aquiles lhe dizer como é terrível estar morto, como é terrível
ser um espectro sem vida e consciência, essa sombra anônima que é o pior futuro
que um homem pode imaginar. Calipso vai tentar lhe oferecer a imortalidade,
permanecer jovem para sempre, não tendo mais que temer a morte e a idade
provecta. Ela tinha plena consciência de sua oferta, pois conhecia as
armadilhas do destino. Conhecia o destino da Aurora, Éos que caíra de amores
por um mortal que se chamava Títono. Raptara-o para viverem sempre juntos, e
pedira a Zeus, com a desculpa de que não poderia mais se separar dele, que o
fizesse imortal. Zeus, com um sorriso ardiloso concedeu-lhe a imortalidade.
Assim sendo, no Olimpo, onde habitava Aurora, veio viver o jovem Títono, com o
poder de nunca morrer, mas aos poucos foi envelhecendo, e aos duzentos anos
tinha a aparência de um couro enrugado e encarquilhado, que não podias mais
falar, nem se mexer, alimentando-se de nada. Um fantasma vivo.
Não parece ser essa a
dádiva pretendida por ser humano algum na Terra. Calipso, entretanto,
oferece-lhe a não morte e a eterna juventude, mas mesmo essa dádiva iria
condená-lo a uma morte eterna em vida e privá-lo de seus atributos de herói
guerreiro que retorna glorioso. Se aceitasse essa oferta teria que abrir mão de
tudo isso. Para os gregos o que oferecem para Ulisses não é a imortalidade, mas
a imortalidade anônima, sem brilho e sem glória (akléos). Uma vida perpétua na
escuridão, sem que ser humano algum mencione seu nome, sem que nenhum bardo
cante sua vitória. Como diz Píndaro em um dos seus poemas, quando uma façanha
foi realizada, não deve ser “escondida”. Para que a façanha atinja a
imortalidade é necessário que seja cantada em prosa e verso. Se ele continuar
na ilha, não haverá mais Odisséia, nem existirá Ulisses, então o dilema se
resume numa imortalidade anônima, que não o tornará diferente dos espectros do
Hades, que aos poucos perderam sua identidade ou como mortal, será imortalizado
pela glória eterna. Ele decide partir. Ele não quer mais dividir seus lençóis
com essa bela ninfa com quem convive há mais de dez anos. Tudo que deseja é
reencontrar sua vida mortal e inclusive morrer se for preciso. Ele afirma seu
desejo por Penélope, que pode não ser tão bela como a ninfa, mas ela é sua
amada, sua esposa, sua pátria. “Muito bem”- Diz Calipso, “compreendo”. Calipso
então o ajuda o herói a construir uma jangada de troncos atados com a mais
resistente fibra por ela produzida para formar uma jangada sólida com um
mastro. Assim Ulisses deixa a ilha para novas aventuras em direção da
eternidade. Retorna ao lar, mas a passagem para a imortalidade fica para sempre
selada pela ira de Poseidon que bloqueia o caminho da eternidade.
Graças à decisão do
personagem, que encontrou sua sabedoria nessa jornada arquetípica podemos
inferir que ao alcançar a possibilidade de uma vida de eternidade Ulisses na
verdade busca resgatar sua humanidade, prefere os altos e baixos da vida
mundana, a incerteza e o perigo do retorno ao mar em uma jangada, a certeza da
velhice e da morte junto aos seus, o retorno ao seu reino natal, junto ao afeto
do filho e da esposa. Para o homem comum a vida eterna, tão desejada por
alguns, propalada nas religiões de mistérios do Ocidente, se assemelha mais a
uma maldição, como a que ocorreu a Títono, pois tais memórias e identidade
perpétua no individuo seriam com certeza um fardo, um castigo, em vez de uma
graça para alguém fadado à eternidade, mesmo que vivendo entre os deuses. No
Ocidente a ideia, ou ênfase, na dignidade da vida individual, de para cada
alma, um nascimento, uma morte, um destino, uma maturação da personalidade que
se estende para o além, onde seja, no inferno, no purgatório, no céu, em que a
alma do morto permanece constituída é um dos dogmas mais sagrados das
principais religiões de origem semítica. No Oriente a ideia de continuidade da
personalidade inexiste. O centro de atenção não é o individuo, mas a mônada, à
qual não pertence intrinsecamente individualidade alguma, mas que transita de
um ente relativo para outro, de larva a deus, de deus a soldado, dentista,
alfaiate, numa sucessão contínua, como um cordão que liga tudo ao grande Oceano
Cósmico da Vida, onde cada porção de sua água nunca é igual a outra.
Tao e Zen -
No Zen Budismo e no Taoismo,
as práticas de meditação servem para elevar o individuo ao contato com a
verdadeira natureza do Bodhi, que é nada mais, nada menos, que a ligação com a
Verdadeira Essência ( Prajna ) da Sabedoria. O Prajna e o Sunnyata andam sempre
de mãos dadas, segundo os mestres do Zen, o Vazio é o conteúdo indistinguível
do Prajna, que deixa de ser uma mera concepção de conhecimento que lida com
objetos relativos; é um conhecimento da mais alta ordem possível na mente
humana, pois é a centelha daquilo que constitui fundamentalmente todas as
coisas.
Na terminologia
filosófica chinesa, hsing é muitas vezes empregado para designar o conteúdo
fundamental, ou aquilo que sobra depois de se retirar tudo que é acidental da
alguma coisa. Hsing é como algo fundamental no ser de uma pessoa ou de uma
coisa, embora não deva ser confundida como entidade individual, como uma
semente ou núcleo que resta quando todos os invólucros exteriores são
removidos, ou como uma alma que escapa do corpo após a morte. Hsing significa
aquilo sem o qual nenhuma existência é possível ou imaginável como tal. Como
sua formação morfológica sugere, hsing é “um coração ou uma mente que vive”
dentro do individuo. Em linguagem figurada pode ser denominada Força Vital.
Segundo o grande mestre
Zen Hui-neng: “o hsin (mente ou coração) é a propriedade e Hsing é o
proprietário: o proprietário governa a propriedade; quando há hsing, há
proprietário; quando o hsing se ausenta, desaparece o patrão; quando há hsing,
a mente (hsin) e o corpo existem; quando não há hsing, corpo e mente são
destruídos. O Buda deve ser construído dentro do hsing, e não há que ser
procurado fora do corpo."
Com isso, Hui-neng
procura explicar-nos de forma mais clara daquilo que ele entende por hsing. É a
força dominante em todo o nosso ser . É o principio da vitalidade física e
espiritual, Não só o corpo, mas também a mente, em seu sentido mais elevado,
funcionam por causa da presença de hsing em ambos. Quando não há hsing, tudo
está morto; mas isso não significa que hsing seja alguma coisa à parte do corpo
ou da mente, que se introduz nele para acioná-lo, e que o abandona por ocasião
da morte. Esse misterioso conceito de Hsing não é contudo de natureza lógica,
mas um fato que pode ser experimentado em nossa existência. Hui-neng chama-o tzu-hsing
(natureza própria ou Ser-em-si), no seu texto do “T’an-ching”.
Dentro desse conceito o
Zen pretende transcender a ideia do dualismo, já que na própria natureza
original existe conhecimento Prajna, pois conhecer é ser e ser é conhecer, no
sentido da percepção do si-mesmo. A natureza reflete-se em si mesma e isso é
auto-iluminação, inexprimível em palavras.
A ideia motivadora de
mudança e transcendência está expressa no sermão do fogo de Buda:
"Tudo, Bhikkhus, se incendiou. Que tudo, Bhikkhus, se incendiou ? O
olho se incendiou, o visível se incendiou, o conhecimento do visível se
incendiou, o contato com o visível se incendiou, o sentimento que nasce do
contato do visível se incendiou, seja prazer seja dor, seja nem prazer nem dor.
Por que fogo é ele atiçado ? Pelo fogo da lascívia, pelo fogo do ódio, pelo
fogo do engano ele é atiçado, pelo nascimento, idade, morte, dor, lamentação,
pena, sofrimento, desespero ele é atiçado, isso é o que digo. O ouvido...diz. O
nariz...diz. A língua...diz. O corpo...diz. A mente...diz.
Sabendo disso, Bhikkhus, o homem sábio, seguindo a via ariana, erudito
em lei, enfastia-se do olho, enfastia-se do visível, enfastia-se do contato com
o visível, enfastia-se do sentimento que nasce do contato com o visível, seja
ele prazer, seja ele dor, seja ele nem prazer nem dor. Enfastia-se do
ouvido...dor. Enfastia-se do nariz...dor. Enfastia-se da língua...dor.
Enfastia-se do corpo...dor. Enfastia-se da mente...dor.
Quando se enfastia dessas coisas,
torna-se vazio de desejo. Quando se enfastia do desejo torna-se livre. Quando
livre, sabe que está livre, esse renascimento está no fim, a virtude
realizou-se, o dever foi cumprido, e que não há mais volta a este mundo; e
assim se sabe."
A ciência olha com
desconfiança para tais afirmações baseadas na tradição humana, na sua tentativa
incansável de reduzir todos os fenômenos da natureza e medir seus efeitos no
plano material. Assim os cientistas pretendem a existência de forças, no
sentido de vontades cegas, enquanto o animismo tradicional, que também é uma
espécie de filosofia, personifica essas forças e atribui a elas o livre
arbítrio. Uma das teorias (Teoria-M) dos cosmólogos afirma que nosso espaço tem
nove ou dez dimensões, mas acredita-se que seis ou sete sejam enroladas em
escalas muito pequenas, restando três dimensões que são grandes e
aproximadamente planas. É um axioma da ciência que a visão do observador define
em larga medida os fenômenos observados. O principio Antrópico diz que vemos o
Universo do jeito que ele é, ao menos em parte, porque existimos, em oposição a
ideia dos fisicistas de uma teoria unificada, totalmente preditiva, na qual as
leis da natureza são completas e o mundo é do jeito que é, pois não poderia ser
de outro modo. Os cientistas se esforçam para estabelecer a posição real e a
velocidade de partículas subatômicas através de cálculos de probabilidade
proporcionados pela física quântica, mas seus resultados mais se assemelham às
crenças, do que a uma realidade objetiva no sentido cartesiano, num
determinismo absolutamente relativo. Existem milhões de probabilidades para o
curso das partículas em miríades de dimensões espaço-temporais possíveis
afirmam os sábios da ciência. Poderia nossa verdadeira existência seguir
paralelo semelhante?
"o conhecimento da
posição de uma partícula é complementar ao conhecimento de sua velocidade ou
impulso. Se conhecemos uma com alto grau de precisão, não podemos conhecer a
outra com a mesma exatidão; mas temos que conhecer as duas para determinar o
comportamento do sistema. A descrição do espaço-tempo dos eventos atômicos é
complementar à sua descrição determinista" ( Princípio de Indeterminação
ou Complementaridade - Dr. Werner Heisenberg )
"Aquilo que mantém
entrelaçado o céu, a terra e o espaço entre eles;
Também a mente, com o
sopro da vida;
Apenas isso deve ser
reconhecido como o Espírito Único.
Rejeita qualquer outra conversa.
Essa é a ponte da
imortalidade"
( Mundaka Upanishad )
Imortalidade Cibernética
–
“E quando a informação
mesmo se torna o maior negócio do mundo, os bancos de dados sabem mais sobre os
indivíduos que os indivíduos sobre si mesmos. Quanto mais as memórias de dados
registram coisas a nosso respeito, mais deixamos de existir.”
(Marshall McLuhan – “Do
Clichê ao Arquétipo”)
O homem contemporâneo
vive em um limiar tecnológico, uma ultima fronteira onde a tecnologia produz de
forma autônoma saltos cada vez maiores em direção a uma mutação irreversível da
condição humana. Nessa rede global onde grande parte da população mundial está
inserida o homem cada vez mais se adapta à condição de membrana osmótica,
terminal e interface de entrada de dados para o imenso fluxo de informação que
transita pelos seus canais na velocidade da luz. Para muitos a realidade
intrínseca de suas vidas já é o meio das redes informatizadas. Suas impressões,
dados pessoais, gostos, pensamentos mais íntimos, hábitos, seu lado
numinoso e como não poderia deixar de ser, sua faceta mais sombria está ali
impressa de forma indelével, possivelmente para toda a eternidade. Informação
que o tempo não corrói sobre o que somos e queremos, sobre onde estivemos, quem
amamos, um banco de dados cheio de recordações existenciais.
Os estudiosos denominaram
antropoceno a época atual onde a humanidade atingiu seu apogeu como espécie
dominante no planeta. Poderia ser esse apogeu nada mais que o começo do fim da
humanidade como a conhecemos? Os seres orgânicos que denominamos humanos não
estarão aos poucos sendo absorvidos pela tecnologia que tão bem desenvolveram?
Imaginem que viajantes
extraterrestres um dia retornem no futuro para visitar nosso
planeta que já conheciam desde o primórdio dos tempos. Ficarão com certeza
surpresos e impressionados com as mudanças ocorridas nos últimos milhares de anos.
A superfície do planeta antes coberta com uma vegetação bruxuleante e cheia de
seres de todas as espécies e uma infinidade de vida habitando em seus oceanos
se transformou em um deserto cercado por mares contaminados, cheios de resíduos
de polímeros, com todas as dimensões possíveis e terras estéreis pelo excesso
de cultivo e devastação. Para tentar descobrir o que ocasionou uma mudança tão
drástica num bioma antes fértil e cheio de biodiversidade levado ao total
colapso terá que buscar nas tecnologias abandonadas pelos antigos moradores e descobrir em meio as ruínas de megacidades o esconderijo dos grandes centros
de bancos de dados onde por fim encontrarão registro do que restou da
humanidade. Suas mais profundas paixões, seus interesses, seu lado mais
obscuro, suas guerras e conflitos intermináveis, seu desprezo pelo meio
natural, sua voracidade traduzida num consumo desenfreado de bens e serviços,
tudo isso e muito mais estará registrado como memórias, impressões, como os
antigos hieróglifos pintados nas paredes das tumbas egípcias, memórias do que foi o auge
da civilização terrestre com seus aspectos positivos e negativos.
Quando esses astronautas
improváveis tentarem contato com a megaestrutura ficarão surpresos como os
sistemas continuam cumprindo fielmente suas funções, coletando e armazenando
energia de onde for preciso, consertando suas unidades, gerindo prioridades de
acordo com as normas e programas deixados por seus criadores nos imensos bancos
de memória sólida que preenchem profundos subterrâneos onde a proteção é mais
eficiente contra cataclismos cósmicos. Ao tentar conectar seus sistemas
inteligentes e verificar o conteúdo desses programas perceberão a busca
incontrolável de perenidade dessa espécie, seus apelos e esforços de enviar
suas sementes ao espaço profundo, de forma ainda rudimentar, embrionária, numa
última tentativa de perpetuar sua espécie agonizante de forma de vida. Quando
interagirem com as redes lógicas, talvez descubram em seus recônditos
verdadeiros universos paralelos, espaços virtuais majestosos com cidades,
estradas, florestas e biodiversidade criada à semelhança do bioma antes
existente, último engenho de uma civilização de biocarbono que emigrou para um
mundo paralelo. Lá se encontram as sombras, as identidades de todos, ou uns
poucos privilegiados, suas impressões e personalidades vivendo uma realidade
comandada por probabilidades infinitas em seu mundo digital comandado por algoritmos, na grande maioria
e por opção própria, unidades esquecidas de seu passado na superfície do plano
planetário, vivendo suas existências dentro dos paradigmas do fluxo de elétrons
em fontes capacitivas, cópias quase perfeitas de seus mestres em um arremedo de
imortalidade após o ocaso do mundo orgânico num processo interminável tipo “Game
Over” e reinicialização, onde todas as mentes estão ali programadas em uma rede planetária
cibernética vivendo a maldição da imortalidade do Judeu Errante. Estarão eles comandando a exoestrutura, o Deus Ex-Machina que os contém? Suas ações virtuais determinam a existência da
estrutura que os encerra? Possuem mitos de Criação para justificar suas
existências ? Cantam ainda seus últimos dias, o seu ragnarok?
Para os que desconhecem a lenda do Judeu Errante, também chamado Aasvero, Asvero, Ahasverus, Ahsuerus ou Ashver, personagem que faz parte da tradição oral do Ocidente cristão, dizem que trabalhava numa oficina de sapateiro ou num curtume na rua por onde passavam os condenados à morte pelos romanos, carregando suas cruzes. No dia da crucificação do Cristo, ao passar ele carregando sua cruz, derrubou-a na frente da loja do homem que tratou-o com desprezo e ironia. Jesus teria então o amaldiçoado a vida eterna, até o dia da Salvação das Almas. Como podemos perceber até a sabedoria popular acredita que a imortalidade, muito mais que uma benesse, pode ser uma terrível maldição.
Bibliografia:
1) O Que é Civilização - Ananda Coomaraswamy - Ed. Siciliano - 1992
2) A Doutrina Zen da Não-Mente - D. T. Suzuki - Ed. Pensamento - 1993 - 9° Ed.
3) O Universo Numa Casca de Noz - Stephen Hawking - Ed. Saraiva - 2012 - Ed. Especial.
4) Do Clichê ao Arquétipo - Marshall MacLuhan / Wilfred Watson - Ed. Record - 1973.